Wednesday, December 31, 2014

Preciso parar de escrever


Eu preciso parar de escrever
Nos últimos tempos
As palavras me fizeram companhia
Mas é preciso assumir que minhas palavras não mudarão o curso da história
Não mudarão sequer o curso de minha história
Uma história torta que nem mesmo parece ter um curso

Ser um homem de palavras 
não faz de mim de fato um homem
Nunca fui bom de fato nesse item
Não sou o filho que deveria
Não sou o pai que gostaria
Não sou o marido que deveria

Fiel aos meus princípios 
às vezes me esqueço de ser fiel à mim mesmo
E isso desmantela toda a história

A história torta que não tem curso
E então
Preciso parar de escrever
Pois minhas palavras não mudarão o curso da história 
E mesmo que mudem
Eu não posso acreditar nisso

Pois se acreditasse não seria mais um homem de palavras
E sim
Um homem de negócios 

E diante do fato de eu não ser um homem
da maneira que o mundo queria que eu fosse
lhes digo sem guardar dúvida ou amargura:

Negócio eu nunca serei

Nunca!!!







Tuesday, December 30, 2014

A Dança

Tuas imagens
Miragens e sonhos
Me fazem dançar

Tuas vertigens
Encantos e formas
Me fazem sonhar

Tuas paisagens
Encontros e beijos
Me trazem prazer

Tuas mensagens
Poemas e medos
Me fazem viver 

________

Tuas imagens
Encantos e formas
Me trazem prazer

Tuas vertigens
Miragens e sonhos
Me fazem viver

Tuas paisagens
Poemas e medos
Me fazem sonhar

Tuas mensagens
Encontros e beijos
Me fazem dançar

________

Tuas imagens
Tuas vertigens
Tuas paisagens
Tuas mensagens
Encontros e beijos
Encantos e formas
Poemas e medos
Miragens e sonhos
Me fazem sonhar
Me fazem viver
Me trazem prazer
Me fazem dançar

E nessa dança sem fim
Onde repetir é reinventar
Eu reinvento o que quero dançar
E não posso
Subverto o que quero viver
E não vivo
E recomeço onde quero morrer

...pois não morro!





Monday, December 29, 2014

O Corpo

No corpo
Encontro os limites daquilo que entendo
Mas não os limites daquilo que sinto
No toque em meu corpo de suas palavras
Viajo com o vento
E me rendo ao toque dos teus sentimentos
E sinto o calor que carrega o teu sangue
E o gosto salgado de teus pensamentos
E o cheiro molhado que tem teus desejos
E os sons indecentes dos teus olhos fechados
Hesitantes
Excitantes
Exilados
Em delírio, delirantes
Aprendendo com a noite
Até a noite acabar!

Dos limites desse corpo 
Traço fronteiras que de fato não tenho
Que se expandem
Que te encontram
Adormecem em um sonho
Sem ter medo de acordar
E acordam desse sonho
Nos limites desse corpo 
Onde encontro os limites daquilo que entendo
Mas nunca os limites daquilo que sinto
No toque em meu corpo de teus beijos molhados
Sou apenas humano
Nada mais que pecado
Aprendendo com a vida
Até a vida acabar!





Thursday, December 25, 2014

De passagem

Tive na vida muitas pessoas que gostaria que tivessem ficado
Mas não ficaram
Se foram mais cedo
A morte, a distância, o esquecimento...
Todos se foram
Mas ficaram os sentimentos
As histórias
Os encantos, a memória...

O gosto do beijo
os tons das palavras
o brilho do olhar
São provas que ainda posso provar

Da partida
E dos corações partidos
A certeza de que fui capaz de amar
Fui capaz de estar vivo e de ter vivido
Fui capaz de sorrir
E de sonhar



(Ofereço-lhes uma rosa. A mesma que me fez nascer!)




Wednesday, December 24, 2014

Milícias

Não quero inventar as milícias de um coração em sofrimento
Há muito não vejo virtude, não vejo encanto ou despertar
Se cruel, sou então o canto de uma noite sem estrelas
Nessa noite dormirei sem o compromisso de acordar

E se então pela manhã houver a luz e um novo dia
Mais uma vez serei pequeno e solitário ao caminhar
Se por amor ou por vingança me procuram ao entardecer
Só sentimentos e alguns versos é o que devem encontrar

Não quero armas ou milícias pra proteger o que não tenho
Não tenho ouro ou virtudes pra me esconder da escuridão
No julgamento ou na tortura nada tenho a entregar
Além de estrelas que não vejo, e o coração em minhas mãos







Tuesday, December 23, 2014

Me desculpe

Me desculpe por não ter de fato nada bom a dizer
Me desculpe por não ser sorriso no dia de festa
Me desculpe por não vir dançar só por que tocam a música
Me desculpe por não te esconder que aqui não é o meu lugar
Me desculpe por não gargalhar da piada ensaiada
Me desculpe por não conversar as conversas banais
Me desculpe por não me vestir com as roupas da moda
Me desculpe por não estar ansioso para o próximo sábado
Me desculpe por não ter comprado uma pequena lembrança
Me desculpe por só possuir o que cabe em meu bolso
Me desculpe por não aceitar que o dinheiro me compre
Me desculpe por não me importar com o que dizem os outros
Me desculpe por não priorizar a limpeza da casa
Me desculpe por ignorar o rangido da porta
Me desculpe por não celebrar nossos falsos amigos
Me desculpe por não me iludir com promessas vazias
Me desculpe por não esquecer das desgraças do mundo
Me desculpe por não enviar sinais de esperança
Me desculpe por não acreditar que haverá um ano novo
Me desculpe por não inventar uma razão pra estar vivo

Me desculpe por não escrever outras versos de amor
Além dos que fiz quando o amor nos bastava
Hoje as marcas do tempo escorrem em meus dedos
Hoje os versos de amor estão além das palavras

Hoje encaro as escolhas que fiz pela vida
Hoje eu vivo as imagens do que me restou
Te peço desculpas por não ser como os outros
Mas não peço desculpas por ser quem eu sou







Monday, December 22, 2014

Saudade

Das palavras que se acumulam diante de meus olhos
Dessa pilha de versos estúpidos
que atormentam meu coração
Desse universo de sentimentos escritos
que me cortam em pedaços

Existe apenas uma coisa que de fato entendo
e que de fato aceito

A saudade!

Saudade daquilo que um dia foi virtude
Saudade daquilo que ainda não conheço 

Com essa saudade remendo os pedaços em que me transformei com o tempo
e que sem ela já estariam há tempos perdidos pelo caminho.




Friday, December 19, 2014

Soneto para Leila


O mundo inteiro hoje a mim se apega
E cala no silêncio que repete
Meu grito ensandecido que reflete
A voz que de teu ventre parte e cega

O Lobo guarda hoje a dose certa
Da essência entorpecente que recebe
Um deus tão poderoso cala e pede
A paz que de teu beijo parte a entrega

Não fosse a poesia de tua alma
Não fosse o denso verde dos teus gestos
Seria a divindade do teu canto

E nessa tempestade insana e calma
As flores talvez façam o que não presto:
Dizer a ti, mau anjo, o quanto a amo



(o único Soneto que tive a audácia de escrever na vida.
Escrito há 16 anos... ...e contando!)






Thursday, December 18, 2014

Distante

Do alto da colina vejo os campos e o horizonte
Belos e distantes
Mas a beleza
e a novidade
já não conseguem me enganar:
Os campos são belos
Como belo é o horizonte
E sempre belos serão aos meus olhos

...enquanto estiverem distantes.





Wednesday, December 17, 2014

Te encontrar


Espero ainda um dia te encontrar
Além da violência desses dias
Um dia em que as noites serão noites
E não esse pesar que silencia

Espero ainda um dia te olhar
Sem os laços que sufocam a rebeldia
No dia em que as noites serão noites
E os dias não serão mais do que dias

Espero ainda um dia te falar
Das vozes que sussurram delirantes
Os versos de um canto sem memória
Poemas de amor hoje distantes

Espero nesse dia te amar
Além da estupidez, além do medo
No dia em que as noites serão noites
E a vida o decifrar de seus segredos






Tuesday, December 16, 2014

Detalhes infinitos

O espelho e a casa vazia
A escuridão das luzes apagadas
O silêncio de nenhuma voz
E o de minha voz calada

A luz que entra pelas frestas
e o descaso das cortinas fechadas
A bagunça que não se mexe há dias
E as portas abertas por onde ninguém passa

Tudo isso são detalhes infinitos
Não há como fugir
E nem como me fazer ficar

Não há resposta à pergunta não feita
Nem cicatriz pra essa ferida exposta
O que existe é o tempo e a poeira

Além do infinito no detalhe de meus olhos fechados!






Monday, December 15, 2014

Aprendendo a andar


Aprendendo a andar
A cada tombo
A cada engano

Aprendendo a falar
de tantos medos
tantos sonhos

Aprendendo a calar
o que é desejo
o que é profundo

Aprendendo a buscar
outros caminhos
outros mundos

Aprendendo a olhar
Por entre as sombras
entre escombros

Aprendendo a viver
entre famintos
miseráveis

Aprendendo a amar
mais amanhã
do que foi ontem

Aprendendo a dançar
com os pés descalços
e incansáveis

Aprendendo a andar
falar, calar
buscar o caminho

Aprendendo a olhar
viver, amar
dançar sozinho

Aprendendo a morrer
dia após dia
e lentamente

Aprendendo a nascer
noite após noite
eternamente





Friday, December 12, 2014

O sol de teus olhos


Ainda me lembro
do dia de sol
Do sol de teus olhos
Do sol dividido
Me lembro do dia
E do amor escondido
Ainda maior
Que teus olhos perdidos

Ainda me lembro
Do dia de sorte
Da espera contida
Da voz comedida
Do banco lá fora
Do resto da vida
Me lembro dos olhos
Sem dor nem feridas

Me lembro da pressa

e dos planos futuros
Me lembro da Rosa
e das mãos delirantes
O banco lá fora
Não é mais como antes
O dia de sol

Já não aquece o bastante

Mas o sol de teus olhos

É ainda maior
Maior que esse sol
Maior que as feridas
Eu vivo esse amor
E uma espera contida 
Pois me lembro da Rosa
E do resto da vida







Thursday, December 11, 2014

Manhãs de um dia futuro


Vastos os campos diante dos olhos cansados
A espera de passos que de tão lentos nunca vão chegar
Lento e cansado se apresenta esse destino
Que não menos vasto é bem maior que meu olhar
Um olhar que persegue sentimentos e virtudes
Imagens disformes e difíceis de encontrar
Razões dissonantes que me atacam enquanto escrevo
Insensível aos gritos que insistem em me assombrar
Amar é o que resta - mesmo que eu não saiba amar




(quando palavras não são suficientes pra dizer obrigado)








Wednesday, December 10, 2014

1964



Foi tudo muito rápido

Quebraram a vidraça
Arrombaram a porta
Assustaram o gato
Derrubaram as flores
e levaram meu coração


Foi tudo muito violento

Maltrataram meus versos
Inventaram mentiras
Torturaram minha alma
Arrancaram-me a força
e levaram meu coração


E de tão rápido e violento

Não pude ver quem eles eram
Não sei ao certo o que queriam
Não entendo bem o que disseram
Fiquei sozinho com o que restou
pois levaram meu coração


e eu não consigo mais sentir!






Monday, December 8, 2014

Estar


Estar vivo não já basta
Já basta a pena de estar
Andando nas ruas
Olhando as pessoas
Meus passos precisos
Meu silêncio no olhar

Pessoas às margens
Sem perdão nem lugar
Eu não encontro lugar
E já nem acho que ele exista

Desse mundo que conheço
O que conheço é o estar
Estar sozinho
Estar distante
Estar enganado, dividido

E mais que dividido
Estar em pedaços e ferido
Nos cacos do espelho
Eu, imperfeito e distorcido
E no silêncio desse olhar
A angústia de ser e de estar

De ser tão pequeno e estar perdido
De ser o que sou e não o que digo
De ser o que vivo
       e não saber amar







Invisível


Os olhos da manhã trazem a luz de um novo dia
Invisível aos meus olhos
Invisível como estou
Já não causa tanta dor
Nem tampouco incomoda

Aos olhos dos que acordam e celebram esse dia
Invisíveis são meus olhos
Invisível minha dor
Já não cabe onde estou
Nem tampouco vai embora

A esses olhos que me tocam, me explicam, me devoram
Invisível sigo adiante
Invisível e sem vontade
Já não ouço os que mentem
Nem os que dizem a verdade

Na verdade eu simplesmente
Não me encontro mais aqui!






Friday, December 5, 2014

Poeta

O poeta é um momento
de um coração que sangra
que explode por dentro
e escreve em chamas
e sofre em silêncio
e morre calado
e vive o cansaço
de amores perdidos
perdidos no tempo
na fúria e na angústia
de noites perdidas
que insistem em sonhar

O poeta é um momento
que insiste em sonhar
com as chamas de um dia
que nunca virá
e morre em silêncio
Sangrando calado
carrega o cansaço
de um mundo perdido
perdido no tempo
e na solidão
das palavras perdidas
de um coração

O poeta é um momento
de um coração que sonha
com as chamas que explodem
de um mundo em silêncio
e sofre por dentro
e morre cansado
e vive o encanto
do verso escrito
Escrito nas noites 
de fúria e de angústia
de dores perdidas
que insistem em voltar

O poeta é um momento
que insiste em voltar
que insiste em ser chama
e que teima em durar

                         para sempre!





Thursday, December 4, 2014

Cores

As cores vivas dessa vida
Não me nego a percebê-las
Não me nego tocá-las
Ou inventar mais cores novas
São as cores que me negam
Me dão nuvens
Céus cinzentos
Trazem amores violentos
E histórias pra contar

Dessas cores sou o negro
Sou o branco
Sou o vazio
Sou as sombras desse quadro
Sorrateiro, escuro, vil
Sou a antítese das cores
Nuvens brancas
Céus cinzentos
Das cores sou sombra e sentimentos
Só histórias pra contar







Wednesday, December 3, 2014

"Desviante"

Toda arte deveria ser um desvio
Um desvio da norma
Um desvio do que se espera

Não um atalho
Mas um caminho mais intenso
Ser do senso, o contra-senso
Da mesa posta, ser o faminto

De cada resposta
Ser a nova pergunta
Pois a arte não responde!

Se junta ao devaneio
E a urgência do artista
em subverter-se
revolucionar-se
incendiar-se de incertezas
diante da certeza de estar vivo

A arte desvia o caminho certo
rumo ao incerto
Repleto de possibilidades
Sedento de paixões
Entregue aos desejos
de uma alma que é humana
Incompleta
Imperfeita e livre

Livre pra explorar caminhos novos
E duvidar do que é certo
Duvidar do que é óbvio
Duvidar do que é sagrado
idolatrado e subserviente

E essa mesma liberdade
Cheia de paixão e rebeldia
Subverte mesmo o artista e anuncia
Ser o desvio da própria arte

E dessa arte que se encontra no desvio
Nasce a paixão, a rebeldia e a liberdade
E desse todo são a parte e a contra-parte
Por serem elas o desvio da própria arte





Tuesday, December 2, 2014

Escolhas

Hoje a paisagem se define por um breve brilho na linha do horizonte
Alguns o chamam de esperança
Outros o chamam desespero
Meus demônios dizem ser o fim do caminho
e meus anjos me pedem pra fechar os olhos e ouvir o som do que tenho a dizer.

Escolhas!

...e tudo o que eu queria
   era apenas poder olhar pro horizonte em paz!





Monday, December 1, 2014

Filhos


Nunca tive a intenção de afastar meus filhos
das influências do mundo.
Eu tenho sim a intenção de influenciá-los
mais de perto do que o mundo.

No entanto isso é uma intenção
e não um projeto de vida.
O projeto de vida é simplesmente amá-los...


...incondicionalmente!!!




(promessa que faço à meus filhos
Mira Serena e Michel Albert)






Friday, November 28, 2014

Se eu fosse contar os dias


Se eu fosse contar os dias
Contaria os dias que te amo
Pois os dias que vieram antes disso
Foram engano
Foram ilusão
E os dias que virão depois de ti
Não serão dias
Nunca virão

Se eu fosse contar os dias
Não contaria nem o acaso nem o avesso
Pois o avesso é o acaso do destino
E o acaso é o destino do avesso
Não moram em ti
Que és a estrada que conheço
Onde me vejo
E onde me esqueço

Se eu fosse contar os dias
Contaria os dias de teus dias
Pois os dias que contaram antes disso
Foram palavras
Sem alegria
E os dias que eu contar depois de ti
Não serão verso
Nem poesia




(aos 16 anos que contamos os dias juntos!)