Monday, September 29, 2014

Barreiras


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Os dias de teu silêncio

Nos dias em que vivíamos os dias de teu silêncio
o céu estava um pouco menos azul
os dias um pouco mais longos
o universo um pouco mais infinito
e os teus olhos um pouco mais profundos
- de uma profundidade serena em quietude e simplicidade.


Nesses dias a respiração era um pouco mais lenta
a ausência mais barulhenta
meus olhos mais abertos
minhas mãos mais inquietas.


Nos dias em que vivíamos os dias de teu silêncio
eu falava mais...
...muito mais com muito mais gente
Eu falava com o sol pra aquecesse tua pele!
Falava com o vento pra acariciar os teus cabelos!
Falava com as flores pra que trouxessem mais cores pro teu dia.
Falava com as palavras pra que te trouxessem poesia
E sobretudo
Falava com os sonhos pra que encontrassem teu silêncio
E o tirassem pra dançar e rodopiar e sorrir...
...e dançar!

Eu não estava lá!
Mas em meu lugar mandei o dia esperar pelas janelas...
...contemplar esse silêncio...
...e te fazer companhia...
...naqueles dias em que vivíamos os dias de teu silêncio!!




Monday, September 22, 2014

Beleza sem fim

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Ontem

Ontem pela manhã ouvi o som de portas batendo
Janelas se fechando
Cortinas deslizando,
   bloqueando a claridade do sol
Pensei que fosse a tempestade chegando
Mas não era.

Era só a vida!

Só a vida!!




Thursday, September 18, 2014

Muitas coisas

Tenho tido muitas coisas 
Inclusive o mundo inteiro
No entanto as palavras me traem
Os sentimentos me esmagam
E o suor me condena

Estou todo espalhado
Entre aquilo que mais desejava
E aquilo que mais repelia
Estou por toda parte
E não entendo esse monte de cacos

Tenho casa mas não tenho canto
Tenho grito mas não tenho alma
Espero o sol como o vampiro espera a morte
Os raios do sol - simples e cotidianos
Dilacerando a pele
Expondo a carne
Deformando

Tenho tido muitas coisas
E por acreditar nelas me perdi
O reencontro talvez já não seja mais um lugar
E a resposta talvez não esteja mais nessa vida
Sinto muito
Não entendo


E não pretendo pertencer a ninguém!




(151210)

Monday, September 15, 2014

Pedras


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O Menino

Um dia tentando encontrar O Caminho Certo, O Menino se perdeu. Não estava encantado com O Caminho Novo - só estava com medo de errar o caminho.
E errou!!

Por acaso decidiu não parar - tinha medo, mas também esperança de encontrar algo familiar que o levasse de volta ao Caminho Certo. Mas não, Ele não viu nada que pudesse lhe servir de pista. É verdade, Ele não se lembrou de jogar migalhas no chão, mas antes de se lamentar por não tê-lo feito, se deu conta que se tivesse jogado, as migalhas já teriam sido devoradas pelos Famintos que ultrapassou pelo caminho!

Em sua história, nem havia passarinhos!

E a noite caiu! E O Menino estava sozinho. E naquela noite Ele se escondeu. Mas longe do mundo, o qual conhecia, não conseguiu esconder de si mesmo As Feridas do caminho.
E então O Menino chorou! Chorou muito, muito, mas bem baixinho pra não romper a escuridão da noite que agora era a única proteção que tinha - e chorar baixinho quando se tem muito a chorar, faz doer muito, muito mais! No cantinho em que se encolhia, havia um pedaço de espelho quebrado que O Menino segurou pra lhe fazer companhia.

E veio o cansaço, e O Menino dormiu!

Na manhã seguinte, a luz do sol levou embora o medo da escuridão - Ele não temia o escuro pelo que não podia ver, mas sim pelo mal que as outras pessoas fingem não ver na ausência da luz! Os Famintos do caminho, eram famintos por que estavam parados e O Menino não queria ser um faminto então, se pôs a andar. Na luz do dia, encontrou o olhar das pessoas, e aprendeu que o que as pessoas são - assim como o que elas têm - é mais perceptível à luz do dia, uma vez que de noite são todos Omissos, por mais que varie a intensidade e crueldade de cada omissão. Ele aprendeu a olhar os olhos das pessoas, e neles encontrou ajuda, desprezo, riso, humilhação, violência, amor, dúvida...

...e O Menino perdeu o medo da noite!

Sóis e luas adiante, O Caminho já era então o desespero da caminhada. Assim como o Choro da primeira escuridão, um desespero silencioso - que destrói muito mais, mas incomoda muito menos! Além dos Famintos e dos Omissos, O Menino conseguia agora enxergar também Os Suicidas e Os Gigolôs. Os Suicidas como os Famintos haviam decidido parar, cada um por seus próprios motivos: pelo Desprezo, ou pelo Riso, Humilhação, Violência, Amor, Dúvida... No entanto não desejavam nem mais as migalhas! O Menino, não queria parar... ...por isso não queria ser um suicida. O Gigolô nunca parava, no entanto, só andava em círculos se alimentando da miséria de suicidas e famintos,. Alimentam essa miséria para o entretenimento dos omissos.

O Menino não queria essa miséria, por isso não queria ser um gigolô. Por isso não queria andar em círculos. Por isso escolheu O Tempo como único protetor e aceitou pagar o preço do esquecimento.

...e O Tempo passou!
...e O Menino se esqueceu!!

Seus olhos já não viam os novos caminhos como desconhecidos. E então O Menino não estava mais perdido. Estava sozinho, mas não mais perdido. E pela primeira vez sorriu pra Solidão que o acompanhava com lealdade desde muito antes de se perder. E nem se deu conta quando a Esperança de encontrar o Caminho Certo se despediu e foi embora.

Ele não mais escondia as feridas do caminho - elas se tornaram uma armadura, enquanto o Desprezo, o Riso,  Humilhação, a Violência, o Amor e a Dúvida (sobretudo a Dúvida!) se tornaram um leve sorriso, e a vontade de buscar o passo seguinte - apenas o passo seguinte, e o seguinte nascer do Sol.

...e O Menino perdeu o medo do dia!!
...e andar já era então O Caminho!

Foi quando então, no caminho de uma tarde de um céu cinzento qualquer, os olhos do Menino encontraram lembranças, curvas, esquinas... encontraram imagens de um tempo em que não havia uma caminhada, noites escuras ou dúvidas (sobretudo dúvidas!). Imagens de um mundo certo, a casa certa, o Caminho Certo!

Ele não pode conter a explosão de alegria de re-encontrar sentimentos tão bons e tão distantes - há tempos já guardados no bolso das impossibilidades.

Com os olhos marejados levantou com as mãos a bagagem que arrastava já por tanto tempo, e apressou o passo para encontrar a casa e enfim, trilhar O Caminho Certo.

Mas tão intensa quanto a explosão da alegria de reconhecer aquelas imagens, foi intensa a decepção em perceber que ninguém o reconhecia. A medida que entrava no Caminho Certo e sorria pras pessoas, percebeu que a casa era muito, muito menor do que lhe contava seu coração, e nos olhos das pessoas do Caminho Certo, ele não viu nada, nada além de Omissos, Famintos, Suicidas e Gigolôs.

Não havia nada que parecesse mais certo. Nada que fosse mais sóbrio. Nada que valia a pena ter siso sonhado.

Como poderia a dor da bagagem que havia em seus ombros ser a mesma paisagem do desejo mais profundo que guardava em seus sonhos?

Foi quando ele mesmo, no reflexo da janela de uma das casas conhecidas, não foi capaz de se reconhecer.
Ele não era mais um menino.

E da confusão de seus sentimentos, lhe restaram apenas lágrimas das quais o sorriso amargo não conseguiu se livrar, e dali se apressou a sair e andando sem destino passaram-se horas e horas e horas...

Ao cair da noite, tamanha era sua dor, que ele fugiu do caminho e se escondeu em um cantinho silencioso. E nesse cantinho onde se encolhia, encontrou um pedaço de espelho quebrado.

E nesse espelho ele viu, que depois de tantos caminhos violentos, feridas e armaduras, histórias e sentimentos, ele não era mais do que apenas um menino.


Nunca mais O Menino foi visto.

Nunca mais se ouviu histórias ao seu respeito.




O Menino mais uma vez, não deixou migalhas!





(inspirada pela canção "O Menino" - Pélico)
OUÇA AQUI





Sunday, September 14, 2014

A fadinha do dente e a menininha

Este vídeo foi publicado em 2011 e a idéia era apenas juntar imagens pra celebrar uma ocasião especial. No entanto, no meio do caminho, surgiu uma história, que virou um roteiro extremamente poético e bonito.

Esse é o meu vídeo mais visto - e o único que a cada dia continua sendo visto por aí a fora. Ele ainda me ensina muito - não sei se é a fada ou a menininha.


Thursday, September 11, 2014

Sentimentos desconexos

Tem sido difícil... ...viver!
Mas o problema não é a vida: sou eu.
Eu sei disso, e não é fácil viver com isso... ...e não é fácil saber disso.
Não é fácil saber o que fazer - ter certeza do que fazer - e saber que o mundo é o espaço de uma pessoa só - e que esse mundo não muda... ... não muda!

Conheci alguém. Um outro alguém que já foi embora.
Um outro mundo de coisas lindas
Lindas paisagens compostas pela desilusão e o cansaço e a solidão.

O desespero é a queda
A redenção é a morte

As lágrimas, a saudade e a solidão não morrem
Elas estarão sempre por perto!

A felicidade é uma breve paisagem à esquerda da estrada
É simples, clara e gentil
Mora no universo do sorriso de uma criança!

Sentimentos desconexos acompanham meus passos
Sou hoje uma criança sem sorriso

Da janela dos olhos eu vejo o sol entre nuvens carregadas de medo, dores mortas e pecados
Da janela da vida vejo um grande espaço vazio, onde cair e voar são apenas pontos de vista. 

Hoje o ar está calmo
E eu só não queria estar sozinho.




(14 de dezembro de 2010)
(11 de setembro de 2014)

Wednesday, September 10, 2014

A Estrada

Esse foi meu primeiro roteiro "poético", e meu primeiro vídeo sem utilizar fotografias, publicado em janeiro de 2010.

O vídeo é bem curto, mas a mensagem me diz muito!



Voar


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"Voar deve sempre ser uma possibilidade"






Monday, September 8, 2014

Histórias de Amor


Histórias de amor sempre têm um final feliz
Porque o amor
  é aquilo que não tem fim
  não tem limites
  nem tampouco explicação!

Acaba a história
Mas nunca o amor!

E o feliz dessa história que termina
É a história que fica:
Uma história de amor
Viva em cores e formatos

O final pode trazer dor
  mas uma dor que não é maior que a história
Pode trazer tristeza
  mas uma tristeza que não é maior que o amor
  porque se forem maiores
  não foi amor o que se viveu
  - foi alguma outra confusão do espírito humano, mas não amor.
Pois o amor não é pequeno
Assim como não é a história.

O final pode ser breve e pontual
Não a história
Nem o amor

E por isso viver uma história de amor
Nunca é triste
Nunca é vago
Nunca é pouco

Onde existiu uma história de amor
Existirá sempre a lembrança

 - não a lembrança do final
   mas a lembrança da história
   e a intensidade do amor vivido
 - não o amor que foi levado
   mas o amor que vive dentro de você,
   e dentro de você sempre estará.

E por isso lhes digo:
Histórias de amor sempre têm um final feliz
Porque por mais que tenha havido um final
O que se viveu foi uma história de amor

E o amor é aquilo que não tem fim!





Thursday, September 4, 2014

A Raiva e o Jovem Coração

A raiva é o desapego momentâneo do coração daquilo que o alimenta e lhe dá vida.

Um garoto, de coração ainda muito jovem e cheio de esperança me pergunta:
" - Por que o coração faz isso?
Por que quer se afastar do que lhe é mais caro?"

Eu não sei a resposta! Mas sei o quão perigoso é deixar um coração jovem sem certeza alguma pra refletir. Então respondo:

" - Os corações humanos são, definitivamente cegos.
Quando um coração é amado, cegamente tende a amar.
Quando um coração é machucado, cegamente quer machucar!
E um coração que é amado e por amor se machuca, cegamente quer maltratar e machucar a si mesmo.

Explode... 
...implode...
Imaginando se libertar, joga pra longe aquilo que o faz ser o que é!

Momentaneamente se perde!!

É altruísta pois imagina que destruindo a si mesmo acabará com o sofrimento do mundo inteiro. 
É egoísta pois no intuito de se destruir, destrói todas as coisas que residem ao seu lado.

E quando os destroços são muitos, e se continua perdido por muito tempo, a raiva pode se tornar mágoa, que se torna desencanto, que se torna veneno, e que finalmente passa a ser a única coisa que se tem a oferecer.

E o que sobra é silêncio, às vezes desespero, às vezes só o vazio...
...não me lembro de sobrarem coisas boas! Não me lembro!"


O jovem me olha com toda sua esperança e alegria, como quem consegue no meio da tempestade o melhor abrigo, e diz:

" - É preciso que as pessoas saibam disso! É preciso que saibam!"

Me detenho alguns segundos em um suspiro discreto enquanto me passa pela cabeça que sim, as pessoas já sabem. Mas de nada vale saber quando o saber está na mente, e a raiva no coração. Quando o saber são palavras e o coração, sentimentos.


Penso mas nada digo. Apenas repito:

" - Sim, é preciso que saibam!"



Tuesday, September 2, 2014

O Grito

O Grito partiu das trevas
   das profundezas de um coração em chamas
   doloroso, violento, cego...

   Era dor - passado, presente... ...futuro
   Era Lágrima
   Insano, insensato, incoerente, inexato, impuro
   Era Humano!

Quem ousaria gritá-lo?
Quem ousaria enfrentá-lo?
    Ou ainda mais perigoso:
Quem ousaria ouvi-lo?

Quem ousaria queimar as próprias crenças?
...queimar os próprios preconceitos?
...aceitar as próprias vergonhas?
...encarar seus próprios descaminhos?

O Grito era o limite entre o desejo e a covardia
O Desejo de quem se despe pra se vestir da Liberdade de ser
E a covardia de quem se veste pra se proteger da intensidade do golpe
   seja a bomba que explode de dentro 
   ou o míssil que atinge vindo de fora

O Grito vindo das trevas
   Me mostrou a casa devastada
   O amor perdido
   O futuro em chamas
   A indiferença partilhada
   As memórias destruídas

E no 'silêncio' da solidão desse grito singular e anônimo
   - na dissonância, meu homônimo e na discordância, meu assassino -
Veio a mim a certeza de estar perdido!

A certeza incandescente e impiedosa de estar perdido!!

E o Grito então se vai
Enquanto a intensidade de seu estrago só aumenta

E eu,
Agonizante, revolvendo cacos
Reinventando sílabas
Espalhando lágrimas e sentimentos pelo rosto frágil
Ouvi uma voz de passos firmes e rápidos passar pelo meu desalento dizendo:

"Estar perdido é a única forma de se saber, de fato, onde se está!!"

E o Grito?
O Grito não dá explicações nem tampouco pede desculpas
E em verdade nem se importa pra onde está indo:

Ele vai!!

Simplesmente vai!!!



   
(para Lívia)