Tuesday, September 2, 2014

O Grito

O Grito partiu das trevas
   das profundezas de um coração em chamas
   doloroso, violento, cego...

   Era dor - passado, presente... ...futuro
   Era Lágrima
   Insano, insensato, incoerente, inexato, impuro
   Era Humano!

Quem ousaria gritá-lo?
Quem ousaria enfrentá-lo?
    Ou ainda mais perigoso:
Quem ousaria ouvi-lo?

Quem ousaria queimar as próprias crenças?
...queimar os próprios preconceitos?
...aceitar as próprias vergonhas?
...encarar seus próprios descaminhos?

O Grito era o limite entre o desejo e a covardia
O Desejo de quem se despe pra se vestir da Liberdade de ser
E a covardia de quem se veste pra se proteger da intensidade do golpe
   seja a bomba que explode de dentro 
   ou o míssil que atinge vindo de fora

O Grito vindo das trevas
   Me mostrou a casa devastada
   O amor perdido
   O futuro em chamas
   A indiferença partilhada
   As memórias destruídas

E no 'silêncio' da solidão desse grito singular e anônimo
   - na dissonância, meu homônimo e na discordância, meu assassino -
Veio a mim a certeza de estar perdido!

A certeza incandescente e impiedosa de estar perdido!!

E o Grito então se vai
Enquanto a intensidade de seu estrago só aumenta

E eu,
Agonizante, revolvendo cacos
Reinventando sílabas
Espalhando lágrimas e sentimentos pelo rosto frágil
Ouvi uma voz de passos firmes e rápidos passar pelo meu desalento dizendo:

"Estar perdido é a única forma de se saber, de fato, onde se está!!"

E o Grito?
O Grito não dá explicações nem tampouco pede desculpas
E em verdade nem se importa pra onde está indo:

Ele vai!!

Simplesmente vai!!!



   
(para Lívia)

2 comments:

  1. Prezado RJ Gullicci parabéns pelo lindo poema. Emotivo, profundo, simplesmente encantador. Percebo que calor do momento inspirou-o e muito bem. Felicidades.

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  2. Penso que, na verdade, "O grito" não se importa para onde vai, porque sabe que vai conosco. E n´s também sabemos. Por isso, escrevemos...
    Parabéns e um Grande abraço, Gullicci!

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