Friday, November 28, 2014

Se eu fosse contar os dias


Se eu fosse contar os dias
Contaria os dias que te amo
Pois os dias que vieram antes disso
Foram engano
Foram ilusão
E os dias que virão depois de ti
Não serão dias
Nunca virão

Se eu fosse contar os dias
Não contaria nem o acaso nem o avesso
Pois o avesso é o acaso do destino
E o acaso é o destino do avesso
Não moram em ti
Que és a estrada que conheço
Onde me vejo
E onde me esqueço

Se eu fosse contar os dias
Contaria os dias de teus dias
Pois os dias que contaram antes disso
Foram palavras
Sem alegria
E os dias que eu contar depois de ti
Não serão verso
Nem poesia




(aos 16 anos que contamos os dias juntos!)



Thursday, November 27, 2014

Ausente


Tenho andado pra bem longe
Estado ausente de mim mesmo
Vagando por aí
Vagando sem sentido
Vagabundo
Indeciso
Embriagado de meus versos
Inúteis
Inútil
Fútil e impaciente
Delirante
Decadente
Deprimente
Depressivo

Estado ausente e impreciso
Incrédulo
Displicente
Inconseqüente
Sem sentido
Sem fôlego
Sem amigos
Com a mente à deriva
Descontrolada
Alma perdida
Machucada
Envenenada
Contundente

Estado ausente de verdade
De vontade
Imprudente
Enfrentando a tempestade
Em mar aberto
Mar adentro
Esquecido
Maltratado
Estado ausente de mim mesmo


E ausente de mim mesmo
Tenho andado pra bem longe
Inconstante
E dividido
Fugitivo
Sem destino
Sem ter feito o bastante
Sem ser bravo o suficiente
E sem ver muito mais adiante
A cada instante
Mais ausente
mais ferido
e mais distante!


Wednesday, November 26, 2014

Escrever

Enterrado sob sonhos que já nem me lembro

Escrevo mensagens de um coração aflito
Mas escrever não muda nada
Não move nada
Nada resolve

A mão que escreve não é firme o bastante
Os olhos não vêem o suficiente
As pernas não encontram o caminho a seguir
O corpo é o limite
Os dias sem fim
O tempo, ilusão
E a morte...

...a morte é o afago que não cabe nesse quadro!

Tuesday, November 25, 2014

O garoto preto


O garoto era pobre
E se perdeu por um sonho
Se encontrou na realidade ausente
E deu um tiro em sua própria imagem
A miragem era ódio
Era um anjo
Era deus
O único deus que poderia dar de volta
Aquilo que o mundo havia lhe roubado

O garoto era preto
E se vendeu por um sonho
Se encontrou na realidade branca
E deu um tiro em sua própria crença
Na presença do ódio
Era um anjo
Era deus
O único deus que poderia levar embora
Toda desgraça que o mundo havia lhe dado

Pois sim ele era......era só um garoto
Que enfim sofreu por um sonho
Se encontrou numa realidade doente
E deu um tiro em sua própria cabeça
Na imagem do ódio
Virou um anjo
Virou um Deus
O único deus que poderia levá-lo embora
E enfim livrá-lo de todo mal, Amém!




Essa é uma história de ficção. Qualquer semelhança com pessoas,
lugares e fatos reais, terá sido mera coincidência.

Montréal, 24 de novembro de 2014



Monday, November 24, 2014

A Pedra


A Pedra
lançada quebra a vidraça
Em minhas botas é como um espinho 
Nas mãos pode ser arma
No chão é só caminho

O garoto
em silêncio prepara a pedrada
Só precisa de um corpo e de muita coragem
Nas mãos é coração
No ar é liberdade

O mundo parece não gostar de garotos...

...nem de pedras!







Friday, November 21, 2014

Todos os corações do Mundo


Hoje eu encontrei todos os corações do mundo.
Eles estavam aflitos
Preocupados com as conjunturas da política internacional.

Nos sentamos pra tomar um café bem forte
Enquanto eles folheavam as manchetes do dia.
Conversamos um pouco sobre coisa nenhuma.

Não me lembro deles terem me olhado nos olhos.
Saíram atrasados, apressados pra vida.

Disseram que um dia desses podemos marcar um almoço.
Eu sorri mas não creio que eles perceberam.

Esqueceram sobre a mesa alguns sentimentos rabiscados num papel -
não creio que sentirão falta deles

Não devem ser importantes!



Thursday, November 20, 2014

Um breve adeus

Era ainda de manhã
Quando te vi com flores nas mãos
Mais do que flores
Havia um sorriso
Esperança nos olhos e no coração

Sei que não era o mundo inteiro
Mas era tudo o que eu sonhava
O que é quase a mesma coisa
Nessa vida
Nessa estrada

O caminho era bonito
E eu não me sentia mais sozinho
Mas o tempo sempre passa
E nos leva a outros caminhos
               - - - - - -

Quando veio o entardecer
E te vi com um aceno nas mãos
Mais do que um aceno
Havia um adeus
Um aperto nos olhos e no coração

Sei que não era o mundo inteiro
Mas eram lágrimas sentidas
O que é quase a mesma coisa
Nessa estrada
Nessa vida

O caminho era cinzento
E eu não entendia estar sozinho
E o tempo sempre passa
E traz a dor pro meu caminho
               - - - - - -

E então chegou a noite
e eu nada tinha em minhas mãos
Mais do que nada
Havia tristeza
Silêncio nos olhos e no coração

Sei que não era o mundo inteiro
Era um sonho transformado em mentira
O que é quase a mesma coisa
Nessa estrada
Nessa vida

Não havia mais caminho
E eu sozinho...
...ainda pedia perdão
E o tempo sempre passa
E continua a dizer não







Wednesday, November 19, 2014

Oração

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Desistir

As curvas do tempo trazem as marcas da crueldade
O sol se ergue sobre a dor de um novo dia
Uma espera sem nome
Uma sorte vazia
As frestas da cortina empoeirada
   mostram que ainda existe vida
Imprecisa e tênue
Um fio prateado a que me apego

Ainda há ar em meus pulmões
Ainda há as frestas
E cortinas não abertas

Não acredito em um mundo novo
Mas não tenho medo do porvir

Não vejo mais o horizonte
Mas continuo mesmo assim
Tenho desistido de muitas coisas
Mas ainda não desisti de mim





Tuesday, November 18, 2014

Ver a vida

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Janelas Fechadas

As pessoas não ficam mais sozinhas,
e por isso se tornaram solitárias.
Aprenderam a olhar pela janela sem abrir a janela -
   as janelas de um mundo que não pode ser tocado

Tudo é vidro
Tudo é medo
Tudo é solitário
Tudo é solidão

A solidão
Que antes era o estado de não se ter alguém por perto
É hoje a solidão de não se ter nem a si mesmo
Pois não ficamos mais sozinhos!

Pela janela tudo pode ser visto
Mas o que vemos está morto
Do outro lado da janela tudo é morto
Frio e inerte como o vidro

Não reflete nossa imagem
Mas reflete o que estamos nos tornando
Coisas frias e inertes
Diante de uma janela

Hipnotizados por suas cores
E por suas falsas possibilidades
Não olhamos para os lados
Não ouvimos outras vozes
Não brilhamos pra outros olhos

Ganhamos muitas coisas
E perdemos mais que todas elas
Pois agora tudo é vidro
Tudo é medo
Tudo é morto
Do outro lado da janela

Escrevo minha poesia como quem procura pedras!







Monday, November 17, 2014

Meias Verdades


As meias verdades
De um amor derradeiro
De paixões insensatas
Me refiz por inteiro

São meias verdades
De amores intensos
Das vozes inexatas
Palavras ao vento

Em meias verdades
Um amor verdadeiro
Mas da boca calada
Veio o golpe certeiro

Entre meias verdades
O amor que era imenso
Se tornou meio nada
Em um dia cinzento

E por meias verdades
Me perdi por inteiro
E o amor foi embora
Lento, calmo e sereno





"Vivemos em tempos de meias verdades
Onde o mal é a metade e a maldade, o complemento!"






Friday, November 14, 2014

Poema



Encontre-me além desse poema
Além do vazio e das canções
Ensina-me o preço dos teus erros
Permita-me o erro das paixões

Entrega-me o vício que te invade
Entrega-me o filho que em ti cresce
Serei a melhor de tuas memórias
Serei o poema que te escreve

Do brilho que dorme em teus olhos
Serei a vertigem que te aquece
O ar que navega o teu corpo
A mão que em teu seio adormece

Tal qual essa vida de ilusões
Te invento nas cores dessa cena
Além da virtude das canções
Encontre-me além desse poema



Thursday, November 13, 2014

Somos Instantes

Somos instantes
Às vezes distantes
Muitas vezes sozinhos
Do amor desses caminhos,
Somos amantes
Nesse andar curvo e delirante
Somos desalinho

Da aventura das palavras

Somos o verso
Às vezes inverso
Muitas vezes sem sentido
Das certezas desses caminhos
Somos o incerto
No andar dúbio e incorreto
Somos destino

Enfim,
dos lugares desse mundo

Somos horizontes
Intocáveis, descontínuos
Quase sempre imprecisos
Da beleza desses caminhos
Somos o espelho
E da imagem que vemos no espelho,
Desconhecidos

Das armas, o gatilho
Das rosas, os espinhos

Das janelas, somos a pedra
Das correntes, o elo perdido
Dos generais, somos a ordem
E de nós mesmos,
                             os inimigos


Wednesday, November 12, 2014

No último dia de minha juventude

No último dia de minha juventude eu fui amado
Cantei os versos mais bonitos
E estava pronto pra minha morte!

Abracei o vento
Respirei ar puro
Olhei para os lados e vi todas as pessoas
- pessoas vivas e pessoas mortas -
E não estava incomodado com as lembranças

No último dia de minha juventude eu bebi vinho
E à possibilidade de uma vida certa
Eu disse: “ - Não, obrigado!”

Fiz o meu futuro
Arrumei o meu quarto
Numa folha de papel escrevi meu último desejo
E a coloquei ao lado de fotos de meus amigos

No último dia de minha juventude eu fui feliz
Não tinha a obrigação de contemplar o horizonte
Não tinha medo
E nem vaidades

Não tinha botas
E nem capa de chuva
E também não tinha pra onde ir
No último instante de minha juventude eu estava livre
E sorria muito!

Sentindo a grama, o vento e o calor do mundo inteiro
O entardecer foi meu refúgio
E a primavera chegou mais cedo
E meu coração batia lento
No último dia

No último dia!

Tuesday, November 11, 2014

NÃO

Não
Não lhe dou o meu abraço
Já estou farto de entregar o que não tenho

Não
Não espere o meu cansaço
Já estou farto de buscar o que não entendo

Não
Não me entrego a esse medo
Que te deixa tão distante dos teus planos

E não
Eu não fujo dos meus erros
Que são tudo o que me resta de humano

Desse dia não sou luz
E da luz, não sou caminho
Das pessoas, sou solidão
Na multidão, estou sempre sozinho

Da virtude, não sou o santo
Nos teus olhos, sou decepção
Dessa vida, só mais um canto
Desse mundo, só mais um "não"

E não
Eu não me rendo a crueldade de teus gestos!!



Monday, November 10, 2014

Tristeza

Guardo a tristeza escondida em minhas mãos
Longe da alegria que tenho no coração
Ela inventa cores
Vestidas de dores
E desenham no mundo imagens 
  que nem todos podem ver

Vivo a tempestade sem ter medo do trovão
Inundo a alma, sigo o vento
Reinvento uma canção

Observo as flores e as deixo livres
Para que cresçam em meu jardim!
E com as mãos onde escondo a tristeza
Recolho as sementes
E as lanço ao ar
Palavras e sentimentos
Que talvez, ao sabor dos ventos
Encontrem um coração
Onde poderão se transformar

Novos caminhos, novas flores
Da tristeza que cresce em mim
Novas alegrias muito além dos meus jardins

E isso faz tudo fazer sentido!





Friday, November 7, 2014

O Poeta

O poeta é um mensageiro

Não é o autor da mensagem
Nem a quem ela se destina
Talvez por isso lhe caiba tanta tristeza

Da necessidade humana de traduzir sentimentos
  ele não é a explosão do sol
  nem tampouco é o calor da pele
É apenas um raio solar
Cotidiano, corriqueiro e invisível

Ninguém percebe
Ninguém se lembra
Ninguém enxerga

Só a poesia nos define.
Só a poesia nos redime
e somente o horizonte nos acolhe.






Thursday, November 6, 2014

Lugares

As palavras que reinvento
São lugares onde me escondo
Onde me perco
Onde respiro
Onde me encontro

Nelas mostro tudo o que sinto
Sem desculpas ou julgamentos 
Mostro o que vejo
O que entendo
O que desejo

Sem verdades absolutas
Ou conclusões desnecessárias
Nas palavras que reinvento
Eu posso ser humano
Sem ser cruel
Sem ser cinzento
Sem ser estúpido

Quando eu não mais estiver por aqui
Sabes exatamente onde me encontrar
Estarei nas palavras da última linha
No último escrito
Na última rima
No último verso
da poesia





Wednesday, November 5, 2014

Cartas de amor

Quero lhe escrever uma carta de amor
Mas não amo!
Eu não amo!

Uma carta de amor
de um tamanho sem medida
de uma espera sem partida
de um pecado sem maldade
de um golpe sem ferida
sem estrago, sem engano

Mas não posso
Pois não amo

Encontro palavras que me encontram
Versos que me assombram
Sentidos inexatos
Mensagens que me encantam

Mas não são de carta
e nem são de amor

E nesse mundo inerte e insano
Do amor, queria escrever as palavras

Mas não posso
Eu não posso
Pois não amo

Tuesday, November 4, 2014

O complicado da vida

O que é complicado na vida?

A irreversibilidade do tempo,
a complexidade das escolhas,
a inutilidade das atitudes,
a estupidez das palavras,
a continuidade da tristeza
a clausura do amor,
a irracionalidade das pessoas,
ou a futilidade da razão? 

Do poeta, isso não é poesia:
é apenas uma pergunta!






Monday, November 3, 2014

Sobre palavras

(Clique na imagem para ampliar)









...porque a vida não é mais que recomeços

...e então foi assim:

Tirei a poeira das mãos
Tirei o mundo dos ombros
Limpei as lágrimas dos olhos

Fingi que ainda tinha forças
Fingi que ainda tinha vontade
Forjei o que ainda faltava

...e segui como quem sabe pra onde vai.

Porque não podia mais esperar
Porque não podia mais me calar
Porque não aguentava mais morrer

Morrer de agonia
Morrer de desgosto
Morrer de desesperança

...me vesti de uma fantasia qualquer
 e fui adiante

Pois não havia mais o que temer
Não havia mais nada a perder
Não havia mais dor desconhecida

Nem a dor do silêncio
Nem a dor do desprezo
Nem a dor dessa vida