Tuesday, October 27, 2015

Réquiem (para um poeta)

...e ele era tão moço ainda!
Rapaz inteligente, bonito, bem-educado...
Tinha a vida inteira pela frente!
Mas a doença o consumiu lentamente até o fim

Na certidão de óbito o registro preciso e minucioso da causa de sua morte:
Morreu de tristeza!

Fui testemunha de sua batalha!
Lutou com todas as forças pela vida
Nunca deixou de ter esperança
Mesmo nos piores dias
quando perguntado, simplesmente sorria
E dizia estar bem
Mas a dor...
...ah a dor era insuportável!
Dor generalizada
Os exames não conseguiram detectar a origem
Mas no peito era onde doía mais!
Até que não pode mais suportar!!
E se foi!!!

Nos últimos tempos nem parecia o mesmo
Perdera peso
Perdera os sonhos
O sorriso se foi!
A voz, antes firme decidida,
Fraca, já quase não saía.

A solidão, antes apenas desprezo
Se tornou fuga
E nessa fuga ele se foi
e não mais voltou!!
Talvez tenha se perdido
Ou simplesmente já não queria mais voltar

A família, exausta pelo fardo
diz que enfim ele descansou.
Mas pra mim ele apenas morreu!

Ontem mesmo o vi perambulando pelas ruas do bairro
Ao passar por ele, o comprimentei
E olhando em seus olhos não o encontrei
Não havia mais nada por lá!
De fato ele morreu!!
Morreu de tristeza!!!

Uma pena
Pois ele era tão moço...
...ainda!







Friday, October 9, 2015

Nos olhos de uma criança

Prefiro o mundo visto pelos olhos de uma criança
nesse mundo existe a fome
existe o medo
existe a miséria
existe a dor
existe o frio
existe a morte
mas no final de todas essas coisas,
um sorriso

no final de todas essas coisas
existe esperança
a crença inabalável de que a bondade vai chegar

...mas a bondade não chega
...e um dia ela percebe que a bondade não existe!

Nesse dia
Ela deixa de ser criança para sempre!

No auge de minha montanha de miséria e sujeira
Mergulhei dentro de mim mesmo dilacerando carne e osso
Cavando na pele até o ponto mais profundo
Buscando o que restou dessa criança

Porque eu preciso do mundo visto pelos olhos de uma criança
Pois só assim
É possível suportar viver a vida!





Tuesday, October 6, 2015

O Sol desse Outono

O que não me falta......coragem
O que não me afeta......preguiça
O que me sufoca......paisagem
O que não me aflige......cobiça
O que não me toca......teus olhos
O que não me entende......machuca
O que não me vê......o tempo
O que quer ser......a rua
O que me destrói......vertigem
O que me comove......bondade
O que me comove......insiste
O que me comove......não existe
O que me assusta......teus olhos
O que não me falta......vaidade
O que me detesta......teu jeito
O que me desperta......vontades
O que me acompanha......o tempo
O que me maltrata......a rua
O que me incomoda......coragem
O que me abandona......insiste
O que não me falta......cansaço
O que não me toca......tua boca
O que me desperta......não existe
O que ainda insiste......ir embora
O que me sufoca......teus olhos
O que não me toca......tuas mãos
O que me espera......a porta
O que me completa......vazio
O que me acompanha......a rua
O Sol desse Outono......só frio
O que não me falta......saudade
O que quero ser......partiu





Saturday, October 3, 2015

Somos Luzes

Somos luzes!
Iluminamos o que olhamos! 

Tem gente que olha pra fora, tem gente que olha pra dentro,
tem gente que olha pros outros, tem gente que só olha pra si mesmo!
E nessa história de olhares a gente vai vivendo por entre os dias de sol e as noites sem lua, se equilibrando entre encontros e desencontros tentando manter acesa a nossa pequena luz própria. 
Mas às vezes ela se apaga.
Em meio à violência das tempestades que por vezes nos surpreendem, buscamos o último sopro de energia pra guardar uma faísca de luz pra recomeçar quando o sol do amanhã aparecer, mas os ventos, os trovões e o peso das nuvens levam tudo, não nos deixando nem luz e nem tampouco esperança. E quando pequenos e invisíveis olhamos em nossa volta e vemos outras luzes passando quase sempre olhando pra dentro, quase sempre olhando pra si mesmos enquanto a tempestade só aumenta - nesse momento é quando deixamos de existir! ...

... 

...mas às vezes, só às vezes, antes de deixarmos de existir, passam ao nosso lado luzes olhando pra fora, e sobretudo, luzes que olham pros outros pois é da sua natureza fazerem isso. E ao fazerem isso, nos emprestam um pouco da luz que já não temos pra nos mostrar o caminho. Às vezes estamos de joelhos e nesse caso, essas luzes diminuem o passo pra que possamos segui-las. Às vezes estamos completamente por terra imóveis, e nesse caso essas luzes nos tomam em seus braços até encontrarmos um lugar seguro! ... 

...Somos luzes...

...e assim segue a vida!

É da nossa natureza olharmos pra dentro ou pra fora, pros outros ou pra nós mesmos... ...mas também é da nossa natureza aprender - aprender que somos luzes, aprender que existem tempestades, e sobretudo, aprender que somos nós que escolhemos pra onde olhar!

Somos nós que escolhemos pra onde olhar!!!