E a manchete dizia o seguinte:
"Oprimido mata Opressor com requintes de crueldade!"
Foi na noite do santo padroeiro
Que a tragédia se deu por inteiro
Assustando a gente daquela cidade
Todos estamos solidários às famílias de ambas as vítimas:
A vítima do assassinato
E a vítima da opressão
Mas só pra primeira teve passeata
Discurso de gente importante
E cobertura na televisão
Pois só a primeira é de fato um crime
Sendo a segunda, fato casual
Que acontece todos os dias
Não vende slogan na camiseta
Nem primeira página de jornal
Ao povo do assassinado
Vítima de uma mente doente
Que se deu o direito de tirar uma vida
Fica a dor, o desespero
E o gosto amargo dessa saudade
Ao povo do assassino
Vítimas duplamente
Da mesma mente doente
E do opressor cruel e consistente
Fica a etiqueta de terroristas
De mensageiros de toda maldade
Nem primeira página de jornal
Ao povo do assassinado
Vítima de uma mente doente
Que se deu o direito de tirar uma vida
Fica a dor, o desespero
E o gosto amargo dessa saudade
Ao povo do assassino
Vítimas duplamente
Da mesma mente doente
E do opressor cruel e consistente
Fica a etiqueta de terroristas
De mensageiros de toda maldade
Enquanto isso nas catedrais
Os assassinos oficiais
Alinham o terno e a gravata
E vão pra rua em passeata lutar pela liberdade
E tirar foto pro jornal pra depois usar na eleição
Pois oprimir nunca foi crime
E matar de fome e esquecimento
Não merece nossa atenção
(ao atentado de 7 janeiro de 2015 que matou 12 pessoas em Paris, ao atentado de 9 de janeiro que matou mais de 2000 pessoas invisíveis na Nigéria, a à todos os outros que acontecem nas favelas e guetos mundo a fora e matam milhões de outros invisíveis e não são importantes o suficiente pra nos mobilizarmos)
Não dá mais pra segurar!!!!!!!!!!
ReplyDeleteBravo!!!!!! Se superou mon ami, passou por cima de tudo, arrasou, foi além de todos sem, no entanto, deixar de ser poético!
ReplyDeleteMostrou-nos um quadro dantesco, indignado, humano no mais real e profundo da palavra, protestou, revoltou, trouxe à tona, chacoalhou e escancarou a verdade sem deixar a poesia. Lembrou-me grandes nomes....
E ainda tem quem diga que o que se escreve não vem da alma, que não é a imagem de quem escreveu...